danielle a.
O Natal. O Natal desse ano veio como quem não quer nada. Chegou devagarzinho, acendendo uma luz aqui e outra alí na frente das casas, pintando um muro, trocando uma janela, podando uma árvore. Quando ví, desejaram-me um feliz natal e olhando pros lados a rua já tava cheia de carros amontoados, parecendo um estacionamento do centro da cidade em dia de segunda-feira. As pessoas todas na rua, bonitas, alinhadas. Não mais bonitas do que as árvores de natal que tinham na sala de cada casa. E nem mais cheirosas do que as comidas que tinham nas mesas.
E numa fração de segundos de quase 365 dias me vi dentro de um lar doce lar, rodeada de irmãos, cunhados, sobrinhos e uma mãe de roupa nova, todos que eu guardo num frasco, rindo, do lado de uma mesa grande, branca e deliciosa. As comidas tavam numa espécie de desfile food-fashion-week. Tão belas, douradas, exalando seu melhor cheiro numa disputa pra ver quem era a mais apetitosa, deitadas em seus leitos sobre os catiçais. E aliás. Apetitosa não, gostosa mesmo. Gostosa traduz mais a comidas natalina.
E todo mundo se encheu de carboidratos, proteínas, ferro e gorduras saturadas, sem ligar pra nada nem pros culotes, enchendo o coração de alegria de ver todas as criações juntas, cheias de dentes de leite, brincando de distribuir presente e distribuindo muito amor junto da embalagem que vinha com o abraço.
É uma sensação boa, fria-quente, doce-salgada, seco-molhada, blues com samba, onde se acha tudo bom demais, sem querer que acabe e querendo terminar pra amanhã ser do mesmo jeito. Na verdade a sensação não se sabe qual é, só se sabe que tem e eu traduzo como ahhhh.