danielle a.
Damian. Damian morava num casa amarela. Bela casa amarela. Criou seu outro mundo dentro dela. E era verde. Verde como as folhas que cobriam as paredes de fora. Ele era magro. Semblante cinza mas de fios de cobre. Ele criava coisas e isso era de costume. Suas criações não eram lâmpadas, velas ou candeeiros. A alma de Damian era escura, mais escura que sua pupila. Não criou máquinas nem motores, mas gostava de se projetar do jeito que não era. Tinha um espelho grande, mas não sei como se via. E se realmente se via.
Se projetava de acordo com o dia, a hora, a estação ou com a próxima pessoa a quem dirigisse a palavra. No seu mundo verde, Damian não sorria. Não era seu forte. No mundo amarelo, Damian dava seu braço a torcer para os outros apertarem sua mão. Quanto mais seu braço torcia, mais seu sorriso abria, como se fosse um fantoche. Dizia aos quatro cantos da bússola que era feliz. Escrevia folhetins sobre paz, amor e  pregava nos postes o que queria ser.
O coração de Damian tinha mofo. Nas artérias corriam vidros que estilhaçavam seus órgãos como se fosse uma guerra. Damian nunca amou e nunca fora amado.
Tinha o rosto de encaixe. Quando saía do mundo verde vivia num baile de primavera e colocava tudo no lugar. Mas as vezes seu olho caía. Seu nariz descolava. E alguém de longe sempre observava que Damian não era, não foi, nem será.