danielle a.

Insult to Injury - 2003 - Jake and Dinos Chapman



Olhando um desses livros de capa bonita e chamativa na Siciliano (sem merchandising), um me chamou bem a atenção. Entitulado Art Now - Volume 2, esse livro traz uma listagem de oitenta e um artistas contemporâneos mais conhecidos e digamos que até consagrados dentro dessa linhagem.
Dentre os mais variados nomes, Jake e Dinos Chapman foram os que me fizeram sentar e ler cada palavrinha daquelas poucas páginas dedicadas a esses dois irmãos britânicos que 'causam' com suas artes ousadas e vou te explicar o por que.
Nas esculturas, os Chapman são conhecidos por criarem certas deformações genéticas relacionadas à sexualidade (ooohhh) e na pintura, são os mais criticados por retratarem cenas de guerra e destruição de corpos, o que não é nenhuma novidade no mundo da arte e não entendo o por quê de tanto espanto.
Mas o maior motivo de todas essas criticas às artes vindas dos Chapman foi quando eles fizeram redesenhos das obras de Goya, onde transmutaram militares em soldados nazistas com rostos de palhaço ou macaco. Dando continuidade ao trabalho deles e também às críticas, os irmãozinhos geniais fizeram uma bela aquisição da série Desastres da Guerra, também de Goya, e aí fizeram a festa, só que agora, por cima das próprias obras do espanhol!
Os Chapman também ficaram famosos por outra aquisição, dessa vez de algumas obras de Hitler, onde deram rostos alegres, flores, nuvens, céu e arco-íris psicodélicos às telas, que foram expostas na mostra entitulada 'Se Hitler tivesse sido hippie, quão felizes nós seríamos?'.

Geniais e perturbadores, não acham?



Bem...ao contrário de muitos, não acho que as artes dos Chapman sejam barbáries, profanações nem inutilidades da vida humana, e também não os considero hereges por pintarem os militares de Goya com cabeça de macaco, cachorro ou palhaço, ou darem psicodelia ao céu de Hitler. Ora, a idade média já passou a um bom tempo e não cabe entitular de herege artistas que não fazem nada mais nada menos do que arte, seja ela qual for.
Se o Patrimônio histórico-cultural ou seja lá qual for a entidade que toma conta disso não concorda com esse tipo de arte, não dessem início a comercialização de obras que consideram intocáveis, impagáveis. Mas como etiquetaram de tarja laranja com um valor promocional e puseram à venda, o proprietário da obra tem direitos sobre ela, cabendo a ele desapropriar-se ou não da sua nova compra.
Trancar uma tela em um cofre a sete chaves é privar algo que deveria ser de conhecimento pra todos. Esse desapego e reutilização é tirar as teias de aranha de cima das tintas secas e relembrar que aquilo fez parte da história e que agora traz uma nova releitura, um novo conceito.
Isso faz parte do cenário da arte que compõe o calendário de algumas décadas em diante e ainda falta muito desapego e aceitação à essas novas manifestações artísticas que não sejam tão clássicas e que já não cabem mais na sociedade que nos meteram.
Só falta entender que a medida que o sol gira, a arte muda. E tudo isso em um só compasso.