danielle a.
A história que te conto, debaixo dessa árvore, é de um menino, doce menino, salgado menino, amargo menino. Possuidor de vários cabelos, camisetas estampadas e agora as desestampa. Antes, no tempo das passagens baratas, da vida fácil, do livro fino e do vinho de quinta, tinha a voz ora grossa ora fina, bigodes verdes, canelas delgadas e lisas. Não se importava com as menininhas, fazia do desodorante um perfume,  não tinha apurado nenhum dos sentidos. Tempos adolescentes. Mas o ponteiro, de crueldade, correu logo, rápido, depressa, declive no leito fluvial, e agora, de bigodes que espetam tua boca, de tão mal-feitos ou de tão sem-tempo. Uma mão de cinco dedos, ganha outro de papel, que se acende e se apaga igual suas esperanças. Com alma de malfeitor, descrê no que cria e agora escreve e descreve.
São os tempos dos livros de bíblia, óculos espelhando a retina, sem relógio nos pulsos pra não ver o tempo passar tão rápido assim, descaradamente, cretinamente, ora. É descarado, mas com ar envelhecido feito whisky, pra dar mais credibilidade às palavras faladas, já que ainda não tem os cabelos cinzas. Se encosta na varanda pra sentir o cheiro de amaciantes florais, feijão, sabão em pó e de café quentinho, destinguindo um por um.
Ganhou coragem,  tato, bigodes escuros, barriga, melhorou a cutis. Ganhou uma enciclopédia, perfume, caixa de música, cordas de guitarra, latas de cerveja onde enlatou suas próprias idéias, após embebedar-se nelas. Perdeu pulmão, fígado, fé e o coração, que foi deixado homeopaticamente em várias partes, dentre as pernas das moças jovens, jovens frutas suculentas, agora sempre devoradas, com ou sem mini-saias. 
Aprendeu a amar que nem poeta e quando senta, cruza as pernas e pensa cretinagem. Calado.

danielle a.

Se duplicando dá pra ver de dois sem óculos. De dois, vê de quatro e de duzentos, quatrocentos. O que é bom agora é bom duas vezes, melhor ainda, sendo assim. Seria bicicleta de quatro rodas, carro de oito pneus, binóculos que é bi agora é tetra, cadeira de oito pernas, gente de quatro pernas e o que mais quatro pernas teria?
Um nariz que é bom agora são dois, ouvidos seriam quatro outra vez, talvez quem goste desse papo é o lobo-mau, que ao invés de uma, iria jantar a vovozinha duas vezes. Se deu bem.
E o abraço? Todo abraço ia ser de Shiva, ombro pra chorar é o que não falta, se tinha dois, agora duplica, por favor Seu quatro olhos, quanto é que essa conta fica?
Eita! Agora vem a parte boa. Vinte bolas de sorvete, vinte pães a dois reais, meia dúzia agora é uma e por aí vai. O que não ia dar muito certo nessa duplicação toda, é que ao invés de dupla sertaneja seria quarteto, se um já incomoda, quatro de uma vez...
ih...

fodeu.

danielle a.